Entreguismo
boêmio
Animado
com os 50 anos do golpe de 64, Expresso entende errado e derruba a si próprio
Democraticamente eleito
pela população brasileira em 1960, João Goulart foi alvo do mais sombrio
episódio da história moderna nacional, o golpe civil-militar, iniciado em 1º de
abril de 1964. Tentando promover as reformas de base para efetuar a
distribuição de terras e possibilitar melhores condições de saúde e educação
aos seus concidadãos, foi logo apunhalado por uma conspiração
midiático-empresarial financiada por forças estrangeiras norte-americanas,
deixando o cargo para impedir um derramamento de sangue, o que, ainda assim,
ocorreu ao longo dos 21 anos de chumbo.
O Expresso tenta ainda
fazer as suas próprias reformas, alterando estrategicamente o posicionamento
dos seus jogadores em campo e reavaliando algumas funções táticas, mas sofre
boicote interno, comumente chamado na literatura libertária futebolística de
complexo de entreguismo, que impede que o que estiver dando certo seja mantido
ao primeiro sinal de dificuldade.
Na partida contra o Bazar,
hoje com 3 vitórias e 2 empates em 5 jogos, o time foi montado no mesmo padrão
dos jogos anteriores, com uma defesa sólida e com válvula de escape, uma meia
cancha marcadora e com saída de velocidade, e um ataque promissor, que possuía
acompanhamento do setor de meio.
Aos 2 minutos logrou pular
na frente em sua primeira conclusão, jogada excelente de combinação entre
Geverton Ost, Pedro Fernandes e José Staudt, definida pelo último com
inclemência medieval.
No entanto o time aos 15
minutos já não tinha o capitão Artur Weiss e, sofrendo de complexo de
entreguismo, perdia por 3x1, dois dos gols em erros coletivos potencializados
por falhas individuais, e o terceiro numa falta em dois toques que foi cobrada
direta e o time permitiu que ficasse por isso mesmo. Aos 26, 4x1 para o Bazar.
A distribuição dos atletas
em campo era tão estapafúrdia que um observador desavisado estranharia
tratar-se aquilo de uma partida valendo 3 pontos, acreditando testemunhar,
seguramente, atividades de sparring ou algo do gênero. Mas não... Era a
volta do entreguismo civil-militar, aflorando agora inaceitavelmente em terreno
boêmio-ferroviário.
Convocada sessão de
emergência no intervalo, as forças da reação tentaram impor nova derrota ao
poder popular, advogando pela dissolvição do sistema produzido com o sacrifício
das massas, requerendo a volta às linhas de quatro e à submissão adversária. No
entanto, num momento de lucidez efervescente as massas se insuflaram novamente
e determinaram a continuidade da busca por caminhar com as próprias pernas,
ainda que tudo desse errado.
O time voltou claudicante,
levando logo mais dois gols que o obliteravam num 6x1 desmoralizante, mas ainda
assim as cabeças permaneceriam agora erguidas frente à primavera que se
avizinhava. Já com Vinícius Guimarães e Carlos Fernandez em campo, reagiu o
Expresso ao fatalismo da dissolução e recobrou parcialmente sua história de
lutas, tentando recuperar um pouco da honra que se ia perdendo em tão soturno
episódio.
Descontou com o
vice-capitão Marco Viola, que aparou escanteio desviado no primeiro pau por
Staudt, jogada ensaiada desde 2011 e que sempre surte efeito quando utilizada
pelo time, e depois partiu para a reviravolta impossível. Staudt por pouco não
diminuiu ainda mais ao atirar cruzado após vencer a disputa com dois zagueiros
quando Fernandes serviu-o atrás da
defesa, chute que foi bloqueado por carrinho milimétrico do defensor; Rodrigo
Dresch tentou duas vezes de cabeça, mas foi barrado no momento do toque pela
retaguarda contrária; Staudt novamente anotou em penalidade máxima quando o
Mimo era só defesa.
Com o 3x6 e pressão, o Trem
Fantasma queria mais, e Dresch quase marcou ao cabecear no segundo pau; Carlos
Fernandez cobrou falta com perigo nuclear, salva pelo zagueiro quando já
ninguém poderia interceder atrás dele para evitar que o jogo voltasse a ficar
aberto. O placar, porém, permaneceu como estava, diminuindo o déficit que
apresentava a equipe em meio às mais sombrias previsões, o que demonstra capacidade
de indignação. No entanto, de nada adianta apresentá-la depois de instituída a
corrosão social. É fundamental que ao se apresentar no campo de batalha a
sociedade expressana saiba como lutar, o porquê, e para quem.
Nota da Redação: na tarde desta quinta-feira, 1º de maio, dia do trabalhador, o Expresso
escolheu o seu caminho a seguir, apoiado em suas tradições. Mas esta é uma
história para a próxima edição...
Expresso da Madrugada 3x6
PT = 1x4
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 26/04/14
Horário: 10h
Copa Farroupilha
Escalação: Mateus Trombetta
– Leandro Silveira, Rodrigo Dresch,
Artur Weiss e Nathan Silva; Marco Viola, Ricardo Toscani, Bruno Rodrigues e
José Staudt; Geverton Ost e Pedro Fernandes. (Carlos Fernandez, Cristian Pheula
e Vinícius Guimarães). DT: José Staudt.
Gols: José Staudt(2) e
Marco Viola.
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