quinta-feira, 1 de maio de 2014

Entreguismo boêmio

Entreguismo boêmio
Animado com os 50 anos do golpe de 64, Expresso entende errado e derruba a si próprio

Democraticamente eleito pela população brasileira em 1960, João Goulart foi alvo do mais sombrio episódio da história moderna nacional, o golpe civil-militar, iniciado em 1º de abril de 1964. Tentando promover as reformas de base para efetuar a distribuição de terras e possibilitar melhores condições de saúde e educação aos seus concidadãos, foi logo apunhalado por uma conspiração midiático-empresarial financiada por forças estrangeiras norte-americanas, deixando o cargo para impedir um derramamento de sangue, o que, ainda assim, ocorreu ao longo dos 21 anos de chumbo.

O Expresso tenta ainda fazer as suas próprias reformas, alterando estrategicamente o posicionamento dos seus jogadores em campo e reavaliando algumas funções táticas, mas sofre boicote interno, comumente chamado na literatura libertária futebolística de complexo de entreguismo, que impede que o que estiver dando certo seja mantido ao primeiro sinal de dificuldade.

Na partida contra o Bazar, hoje com 3 vitórias e 2 empates em 5 jogos, o time foi montado no mesmo padrão dos jogos anteriores, com uma defesa sólida e com válvula de escape, uma meia cancha marcadora e com saída de velocidade, e um ataque promissor, que possuía acompanhamento do setor de meio.

Aos 2 minutos logrou pular na frente em sua primeira conclusão, jogada excelente de combinação entre Geverton Ost, Pedro Fernandes e José Staudt, definida pelo último com inclemência medieval.

No entanto o time aos 15 minutos já não tinha o capitão Artur Weiss e, sofrendo de complexo de entreguismo, perdia por 3x1, dois dos gols em erros coletivos potencializados por falhas individuais, e o terceiro numa falta em dois toques que foi cobrada direta e o time permitiu que ficasse por isso mesmo. Aos 26, 4x1 para o Bazar.

A distribuição dos atletas em campo era tão estapafúrdia que um observador desavisado estranharia tratar-se aquilo de uma partida valendo 3 pontos, acreditando testemunhar, seguramente, atividades de sparring ou algo do gênero. Mas não... Era a volta do entreguismo civil-militar, aflorando agora inaceitavelmente em terreno boêmio-ferroviário.

Convocada sessão de emergência no intervalo, as forças da reação tentaram impor nova derrota ao poder popular, advogando pela dissolvição do sistema produzido com o sacrifício das massas, requerendo a volta às linhas de quatro e à submissão adversária. No entanto, num momento de lucidez efervescente as massas se insuflaram novamente e determinaram a continuidade da busca por caminhar com as próprias pernas, ainda que tudo desse errado.

O time voltou claudicante, levando logo mais dois gols que o obliteravam num 6x1 desmoralizante, mas ainda assim as cabeças permaneceriam agora erguidas frente à primavera que se avizinhava. Já com Vinícius Guimarães e Carlos Fernandez em campo, reagiu o Expresso ao fatalismo da dissolução e recobrou parcialmente sua história de lutas, tentando recuperar um pouco da honra que se ia perdendo em tão soturno episódio.

Descontou com o vice-capitão Marco Viola, que aparou escanteio desviado no primeiro pau por Staudt, jogada ensaiada desde 2011 e que sempre surte efeito quando utilizada pelo time, e depois partiu para a reviravolta impossível. Staudt por pouco não diminuiu ainda mais ao atirar cruzado após vencer a disputa com dois zagueiros quando Fernandes serviu-o  atrás da defesa, chute que foi bloqueado por carrinho milimétrico do defensor; Rodrigo Dresch tentou duas vezes de cabeça, mas foi barrado no momento do toque pela retaguarda contrária; Staudt novamente anotou em penalidade máxima quando o Mimo era só defesa.

Com o 3x6 e pressão, o Trem Fantasma queria mais, e Dresch quase marcou ao cabecear no segundo pau; Carlos Fernandez cobrou falta com perigo nuclear, salva pelo zagueiro quando já ninguém poderia interceder atrás dele para evitar que o jogo voltasse a ficar aberto. O placar, porém, permaneceu como estava, diminuindo o déficit que apresentava a equipe em meio às mais sombrias previsões, o que demonstra capacidade de indignação. No entanto, de nada adianta apresentá-la depois de instituída a corrosão social. É fundamental que ao se apresentar no campo de batalha a sociedade expressana saiba como lutar, o porquê, e para quem.

Nota da Redação: na tarde desta quinta-feira, 1º de maio, dia do trabalhador, o Expresso escolheu o seu caminho a seguir, apoiado em suas tradições. Mas esta é uma história para a próxima edição...

Expresso da Madrugada 3x6
PT = 1x4
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 26/04/14
Horário: 10h

Copa Farroupilha
Escalação: Mateus Trombetta –  Leandro Silveira, Rodrigo Dresch, Artur Weiss e Nathan Silva; Marco Viola, Ricardo Toscani, Bruno Rodrigues e José Staudt; Geverton Ost e Pedro Fernandes. (Carlos Fernandez, Cristian Pheula e Vinícius Guimarães). DT: José Staudt.

Gols: José Staudt(2) e Marco Viola.

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