Do servilismo à Revolução: “1, 2, 3 EXPRESSO”
Após 75 minutos de subserviência, time supera derrota por 0x3 e conquista empate no final
Desde as primeiras rodadas era
conhecido do grupo boêmio-ferroviário o desafio de enfrentar as
melhores equipes da competição, quase todas elas, nas rodadas
iniciais. Tendo em vista esta excepcionalidade da tabela, firmaram um
pacto de preparar o time para o momento decisivo, o do embate com
adversários diretos na luta pela classificação na parte final da
Farroupilha. Desde o segundo compromisso apostando em marcar à
frente e tirar o espaço dos oponentes já na saída de bola, o
Expresso foi construindo um sistema sólido de contenção e, em
seguida, passou a marcar gols. Da sexta à nona rodadas, depois de 4
derrotas e um empate nos cinco jogos iniciais, o time obteve 10 dos
12 pontos disputados, e parecia encaminhado para consolidar-se como
força emergente do certame. No entanto, muitos jogadores
desapareceram ou tiveram compromissos particulares ou profissionais,
prejudicando a continuidade da evolução técnico-tática, e, apesar
de ter mantido-se invicto contra rivais diretos, a pontuação
avançou a passos de tartaruga. Além disso, muitos dos que ficaram
passaram a questionar a proposta tática do time, e o resultado disso
foi a desorganização dentro de campo, levando a perda de pontos
importantes quando o prognóstico era de chegar à classificação
com algumas rodadas de antecipação.
Na manhã do último sábado o
Expresso parece ter chegado ao fundo do poço em termos de
comprometimento, apresentando acintosa desorganização e
descumprimento de determinações da comissão técnica, encarando a
esmo o Borrachos e expondo-se ao ridículo e à derrota. Realizando
sua pior partida no campeonato, levava 2x0 aos 65 minutos, quando o
treindor-jogador José Staudt revolveu a formação da equipe,
mudando peças e posicionamentos, reestruturando-a conforme havia
sido idealizada meses antes. Um minuto depois, porém, Leandro
Silveira cometeu pênalti inacreditável e o Borrachos chegou aos
inalcançáveis 3x0.
Entretanto o realinhamento do
quadro parecia ter influência cósmica, e a modificação do
panorama foi avassaladora.
Revoluções por Minuto
Tudo parecia definido quando
Araldo Neto saiu para o lado direito e a bola voou para o esquerdo no
pênalti que ampliava a vantagem dos alvicerúleos. Abatidos em
campo, os boêmio-ferroviários agiam mecanicamente no gramado,
fazendo a bola circular de um lado para o outro, quase esperando pelo
apito final. Mas então, com a nova formação que já havia sido
gestada e inclusive experimentada ante situações terrivelmente
desfavoráveis, um evento inesperado ocorreu: com a redonda pela
direita de ataque, o meia contrário carregou-a displicentemente até
chegar um marcador expressano em piloto automático. O meia, então,
tentou aplicar-lhe um balãozinho. Com ela parada sobre a grama. Pode
ter sido o gatilho que esperava para ser acionado, transbordando toda
a frustração dos azulados com a atuação vexatória e passiva que
desempenhavam. É desnecessário dizer que o lance não teve
continuidade, visto que 3 corujas atacaram-no simultaneamente,
recuperando a esfera e recolhendo-a com raiva e brio. Recobraram o
ânimo, completamente abatido. Realinharam-se em campo, com o único
objetivo de responder. E com isso veio o primeiro gol, de pênalti,
jogada de Allison Raupp, já remanejado para o ataque, que enviou a
redonda para Staudt por cima, e este, dominando-a no peito, foi
abalroado pelo zagueiro pelas costas para depois converter a
cobrança. O gol, 30 do segundo tempo, incendiou o time, que avançou
definitivamente sobre o campo borracho, amordaçando sua tentativa de
evitar a pressão irresistível, e mostrando todo o potencial que o
Expresso recusa-se a deixar florescer por puro complexo de
vira-latas.
Aos 35, Fernando Gutheil,
agora como cabeça de área, e não mais como centroavante, combateu
como um soldado do povo na batalha de Stalingrado contra os nazistas
na Segunda Guerra, e, avançando a linha de marcação, tomou a bola
na intermediária ofensiva, que caiu para Vinícius Guimarães. Este
dominou-a e deixou-a voar por sobre o goleiro, lá de longe, com um
leve toque de pé direito que soterrou as esperanças contrárias de
segurar a vitória. Era um bombardeio.
El Condor Pasa
Araldo Neto, arqueiro que por
anos fechou a meta boêmia, agora é recrutado ocasionalmente,
geralmente quando Mateus Trombetta, o melhor arqueiro da UEFA 2013,
não pode comparecer. Sempre lesionado, não sente o peso sobre as
largas asas e domina, apesar das dificuldades, o velho espaço que se
acostumou a defender.
Foram muitas as intervenções
que foi obrigado a realizar durante o jogo, mas nenhuma delas tão
colossal quanto a última, Borrachos 3x2, 40 minutos da etapa
complementar. O adversário escapou por um segundo da marcação
implacável a que era submetido incessantemente havia, já, 10
minutos. Com Leandro Silveira a persegui-lo, chegou à área com suas
últimas forças, tendo apenas Condor Neto à frente para matar o
jogo e talvez selar o destino do Expresso. No momento decisivo, com
Silveira lançando-se contra ele, disparou rasteiro, já acossado,
também, pelo monstro de asas. Ela desviou, encaminhou-se para o arco
e passou assobiando como o Minuano, tirando tinta do poste e saindo
pela linha de fundo. A defesa proporcionou à equipe seguir lutando
e, aos 43, depois de excelente troca de passes no meio, Pedro
Fernandes, que havia ingressado na frente, surgiu por entre os
defensores e foi agarrado na área, em pênalti mais uma vez
convertido por José Staudt.
A insistência continuou e,
por fim, um miserável detalhe impediu que o Expresso, na pressão
infernal a que submetia o oponente, chegasse à vitória
inesquecível, pois cruzamento de Guimarães passou pela zaga e achou
Staudt quase na linha de fundo, que bateu para o meio e a bola
encobriu o goleiro, oferecendo-se limpa no interior da pequena área,
onde quicou uma, duas vezes antes de ser rechaçada dali por um
desesperado retaguardeiro que só pensava na cerveja que não chegava
nunca.
Expresso da Madrugada 3x3
Borrachos
PT = 0x1
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 23/08/14Horário: 9h30
Copa Farroupilha
Escalação: Araldo Neto –
Leandro Silveira, Artur Weiss, Marco Viola(C) e Cristian Pheula;
Ricardo Toscani, Carlos Fernandez, José Staudt e Allison Raupp;
Geverton Ost e Fernando Gutheil. (Fernando Fernandes, Pedro Fernandes
e Vinícius Guimarães). DT: José Staudt.
Gols: José Staudt (2) e
Vinícius Guimarães.
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