domingo, 13 de outubro de 2013

Treze(ntos) de Expresso !

Treze(ntos) de Expresso
Segurando legião de corintianos, treze expressanos conquistaram o empate aos 94 minutos

Esparta fez história e é lembrada através dos tempos por sua estrutura social marcada por soldados incomparáveis em treinamento, preparo físico e coragem, bem como organização e disciplina jamais vistos até então. Nos dias atuais, os descendentes mais próximos desta linhagem mítica envergam o manto marinho-celeste, são imbatíveis em organização e coragem e, sinal da evolução dos tempos, trocaram o treinamento e o preparo físico de outrora pela carne gorda em excesso e cerveja. Conhecidos pelo brutal destemor em peleas quaisquer e denominados expressanos em clara alusão aos ascendentes de milênios atrás, voltaram a atacar no último sábado contra uma legião de corintianos em compromisso válido pela quarta rodada da Copa UEFA 2013.

Desde o princípio estava bastante clara a proposta expressana de enfrentamento: a cada troca de passes mais próxima do campo de defesa azulado os boêmio-ferroviários diminuíam os espaços, acossavam o rival e expunham-se ao combate, às divididas e, inevitavelmente, à ação nefasta da arbitragem, sequiosa por marcar faltas inexistentes próximas à nossa área. De qualquer modo isto não mudou a disposição da equipe de procurar o combate implacável, maior do que já havia feito contra o All Blacks, mas agora com mais desarmes e menos espaço.

No primeiro lance do jogo, porém, foi o Corinthians que levou o cartão. Marco Viola recuperou a redonda atrás e avançou, sendo atingido violenta e desproporcionalmente pelo adversário aos dois minutos do primeiro tempo, ainda no campo de defesa, lance para cartão vermelho direto. O amarelo saiu baratíssimo. Poucos minutos depois, então, o desmascaramento total da arbitragem: Silvio Cargnin escapou em contragolpe pela direita e, quando já mirava a entrada na área, foi abalroado por trás pelo mesmo jogador que atingira Viola. Vermelho? Não, apenas falta. O juiz foi cercado pelos jogadores de azul, indignados.  Na sequencia, Cargnin foi novamente parado pelas costas por uma tesoura do zagueiro contrário, falta gravíssima, arriscada e na qual o amarelo sairia, de novo, de graça. Resultado? Nada.

O jogo era pegado, e o Expresso queria jogo. Em cobrança de escanteio Cristiano de Souza quase fez olímpico. O time chegava nos contragolpes, apesar de afobar alguns lances, e quando trocava de pé em pé sempre encontrava espaços para arremates de fora da área, com o próprio de Souza e Felipe Rodrigues. Mas foi numa falta lateral cobrada por Cristiano de Souza que os boêmios abriram o placar: a bola alta foi dividida por José Staudt com o goleiro adversário, e caiu de novo para o capitão expressano, de costas para o arco. Caído, ele conseguiu direcioná-la para Viola, que ao invés de bater deu uma de véia murcha e errou o domínio, choramingando. Leandro Silveira, todavia, vinha rasgando por trás do tumulto e chegou batendo o que via pela frente, tirando uma fina da orelha de Staudt, acertando a cara da nêga e metendo no cantinho! Expresso 1x0!

A defesa mostrava solidez espetacular, lucidez para sair jogando quando dava, e seriedade para dar balões quando era pressionada. Ora saía Cristian Pheula de trás, ora Marco Viola. Pelas laterais, justificando o apelido de 'Muro de Berlim' recebido da Volksarmee há duas temporadas, Silveira fechava bem o flanco apesar da insistência do adversário em atuar por aquele setor e, com a ajuda de Felipe Rodrigues por ali, impediu lances de perigo no seu lado da fronteira; na esquerda Pedro Rocha conseguia maior liberdade para iniciar as jogadas de ataque. Rafaelle Rosito e Ricardo Toscani faziam ótima partida à frente da zaga, com vigor físico, fechando bem os espaços e jogando sem nenhum sorriso na cara. Rosito, então, chegava a fazer careta de tanta seriedade, e dava de bico nela quase todas que por ali apareciam – Vinícius Guimarães que o diga... Nas meias, José Staudt recuava mais para tentar cadenciar o jogo, enquanto Rodrigues e de Souza avançavam um pouco na tentativa de juntarem-se a Silvio Cargnin na frente.

Viola perde o domínio. Mesmo assim, gol!
 A vantagem no escore não fez o Expresso recuar a marcação nem diminuir a intensidade dos combates, pelo contrário. No entanto, piorou a atuação do árbitro... Antes do intervalo ele viu falta na entrada da área marinho-celeste depois que o adversário escorregou. Quase saiu o gol na cobrança. Trombetta ainda propiciou momento ímpar em que parecia uma galinha louca atrás do atacante, ambos correndo em busca da bola rebatida para fora da área, corrida que foi vencida pelo avante que, assim, foi derrubado.

Porém, o lance final da etapa, quando o atacante escapou da defesa em velocidade, é que teve o condão de demonstrar toda a garra expressana no confronto, e o que o Corinthians teria que superar se quisesse sair com alguma coisa do jogo. O chute fortíssimo e cruzado foi defendido milagrosamente por Mateus Trombetta, desviando a esfera que ainda seguiu viva sem o guarda-metas no gol. Pheula, no entanto, recuperando-se de uma das pixotadas da rodada passada, chegou lavrando a área como se fosse uma colheitadeira estatal comunista e, sobre a linha, conseguiu chocar-se contra a bola que havia sido rebatida de volta para a meta vazia, salvando para escanteio e garantindo o 1x0 parcial para o descanso.
Pheula fazendo a cobertura: coletivização forçada!
O time voltou igual para os últimos 45 minutos do clássico, ignorando a superioridade numérica geral do rival, o melhor preparo físico e sua qualidade técnica. Agarrando-se à organização tática, à coragem e aos depósitos de gordura, entrou com tudo para segurar o Corinthians como fosse preciso. Para variar, a arbitragem fez o favor de jogar o adversário para cima do Expresso com inversão de faltas e infrações inexistentes, não marcando nada a favor da coruja. E logo aos 8 minutos ocorreu o empate numa falha de posicionamento da defesa, gol de cabeça em cruzamento da intermediária. A pressão continuava, mas o Expresso sustentava bem, e Trombetta realizava intervenções importantes. No contragolpe, entretanto, o Expresso passava a levar muito mais perigo do que levara em todo o primeiro tempo nas escapadas de Silvio Cargnin e de Cristiano de Souza. Faltava só o último passe, que veio quando Cargnin recebeu no meio, segurou para a passagem de José Staudt e lançou atrás da defesa para a entrada do meia em velocidade. Ela caiu para o pé direito enquanto ele era perseguido pela defesa, o que não o impediu de, da entrada da área, soltar o pé no ângulo, mas o arqueiro alvinegro fez defesa espetacular e tocou para escanteio. Na cobrança Cristian Pheula rebateu de volta para o meio a bola que havia passado por todo mundo e Staudt lançou-se para recolocar o time na frente, mas errou por meio milímetro o golpe de cabeça.

Vinícius Guimarães e Tiago Lopes entraram para dar continuidade ao fortíssimo esquema defensivo nos lugares de Ricardo Toscani e Rafaelle Rosito, medida tomada por Fernando Gutheil, oficialmente efetivado pela diretoria como técnico do clube em substituição aos ultrapassados Martin Both e Vinícius Merlo, para dar mais gás aos que batalhavam contra o desgaste físico. Apesar da pressão, o time sustentou-se bem até os 45 minutos do segundo tempo quando o juiz não marcou falta sobre Cristiano de Souza, que deu a volta no zagueiro e arrancava sozinho para marcar o gol da vitória. Ao invés disso, inverteu-a, parando o jogo e propiciando ao adversário mais um ataque, que resultou no cruzamento que deu origem à virada.

Guimarães e José Staudt cercaram imediatamente o árbitro, que tentava dar continuidade ao jogo. Eles não permitiram. Com isso, Staudt recebeu o cartão amarelo, mas continuou esbravejando. Vinícius Guimarães, então, tomou a frente do capitão e seguiu interpelando a desautoridade do campo, e também foi advertido. Antes que o jogo tivesse reinício, no entanto, o apitador, completamente confuso, sinalizou 5 minutos de acréscimos. E Fernando Gutheil, o técnico oficializado,  determinou: “Sempre em frente! Não temos tempo a perder!”. Então, o Expresso foi pra cima.

Gutheil prometeu um Bruxas a si mesmo: “Somos tão jovens”

Tão logo saiu a bola os expressanos voltaram-se quase todos para o campo de ataque. Atrás, os poucos que restaram tiveram que se virar como podiam para evitar que um contragolpe qualquer terminasse definitivamente com as já remotas chances de empate do time. Ficaram Leandro Silveira, Cristian Pheula e Marco Viola. O resto avançou com tudo.

Não havia preparo físico inferior que segurasse a gana dos jogadores expressanos de tirar a vitória do Corinthians. Atacando na marcação como vespas chinesas, voavam como se o jogo mal tivesse começado, ainda que praticamente a esmo e sem nenhuma lucidez. Conseguiam impedir que o adversário mantivesse a posse de bola, conseguiram recuperar a redonda quando eles levaram-na para a linha de fundo, e tiveram, ainda, energia para forçar uma última tentativa, todos no campo ofensivo quando Mateus Trombetta agarrou um lançamento e devolveu-o quase na intermediária contrária. Cristiano de Souza subiu com o zagueiro, que cabeceou para cima e para trás. José Staudt disparou em direção à bola, que caía na cabeça do último homem, e acreditou que ele fosse falhar. O recuo para o goleiro foi fraco, Staudt ganhou no corpo do defensor e, quando fugia para empatar, foi agarrado. Quarenta e oito e meio do segundo tempo, lance para expulsão, nada de vermelho. Enquanto o juiz corria em direção ao local da falta, todos acompanhavam para ver onde ele pararia, com os expressanos em seu encalço obrigando-o a marcar o pênalti. Talvez pelo adiantado da hora, avançava lentamente... Talvez pela pressão dos boêmio-ferroviários, apontou para a cal.
Então, José Staudt, provocado por meia dúzia de elementos adversários, fixou os olhos na bola, olhou uma vez para o goleiro e atirou cruzado, seco e indefensável! Expresso 2x2 Corinthians, e o sorriso mudou de lado.

Pênalti para o Expresso aos 49 do segundo tempo: só correr pro bar!

Expresso da Madrugada 2x2 Corinthians
PT = 1x0
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 05/10/13
Horário: 10h

Copa UEFA

Escalação: Mateus Trombetta –  Leandro Silveira, Cristian Pheula, Marco Viola e Pedro Rocha; Rafaelle Rosito, Ricardo Toscani, Felipe Rodrigues, Cristiano de Souza e José Staudt(C); Silvio Cargnin. (Tiago Lopes e Vinícius Guimarães). DT: Fernando Gutheil e José Staudt.
Gols: José Staudt e Leandro Silveira.

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