terça-feira, 1 de setembro de 2015

nós OK

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Gladiadores expressanos estrearam na UEFA arrancando empate épico contra o Ipanema

      Em campo, dois tempos distintos, capazes de servir como testemunha das mudanças revolucionárias pelas quais passou o Trem Fantasma desde sua eliminação na Copa Farroupilha.
      Começando distante na marcação, o Expresso percorria distâncias siderais para tentar fechar os espaços que o ataque contrário criava em seu setor defensivo. Sem alertarem uns aos outros adequadamente sobre as flutuações, zagueiros e volantes cruzavam o vácuo nas diagonais, pra cima, pra baixo, mas sempre atrás de alguém, que invariavelmente recebia livre e causava problemas.
      Logo aos 10 minutos, depois de lançamento espacial de 50m, Leandro Silveira não percebeu a passagem às suas costas e deixou a bola cair no pé do atacante, já dentro da área. No impulso, tentou bloquear a passagem do rival, porém permitiu o drible para dentro, e o chute colocado, na gaveta, impossibilitou Araldo Neto de esboçar a defesa. Era muito cedo, não havia troca de passes, nem movimentação; as divididas eram sempre do Ipanema e a vibração simplesmente inexistia.

       O jogo boêmio-ferroviário era truncado desde a saída de trás. Começava de um lado e ali terminava. A circulação de uma lateral à outra, um dos elementos mais trabalhados durante a preparação, havia deixado de ocorrer. A falta de mobilidade matava o ataque de inanição, e resultava, também, em virtude dos erros de passe, em riscos defensivos agudos.
Paulo de Tarso e Ricardo Toscani faziam força para neutralizar os oponentes na intermediária, mas as falhas no posicionamento faziam com que a redonda sobrevoasse o tempo todo suas cabeças, aterrissando nos adversários. Movediços, os avantes contrários desorganizavam também a zaga, que demorava a acompanhar as mudanças de posição e acabava sobrecarregando os volantes. Nas poucas vezes em que adiantaram a marcação, Leandro Silveira, Marco Viola e Cristian Pheula conseguiram vitória pessoal. No entanto, poucas foram as oportunidades em que deixaram o setor para combater mais à frente, se conformando com a existência de um buraco negro nas redondezas, onde morriam aos poucos Tarso e Toscani.


Meia-cancha boêmia segundo agência espacial russa Roscosmos. Buraco negro

      Ofensivamente falando, somente duas vezes o Expresso entrou na área alviverde: na primeira, José Staudt recuou para tentar articular a jogada pela esquerda, recebeu de Allison Raupp e enfiou nas costas da defesa para Pedro Fernandes, que invadiu a área e cruzou para trás, bola que Heider Alves não conseguiu finalizar. Na segunda, Paulo de Tarso serviu Fernandes na área, que conseguiu driblar o goleiro, mas atirou sobre ele e obteve apenas o escanteio. Na cobrança, o melhor momento expressano na etapa inicial, Carlos Fernandez bateu, Staudt desviou para o miolo e ela passou em frente a Tarso, com o goleiro batido. No contragolpe o Ipanema perdeu chance incrível aproveitando-se de falha de recomposição do Expresso, e Araldo Neto, saindo desesperado a fim de evitar a ampliação do escore, viu a bola explodir no poste esquerdo e perder-se pela linha de fundo.
      Aos 30, porém, após novo erro de compactação, cruzamento da esquerda encontrou o atacante livre dentro da pequena área e mais uma vez Neto nada pôde fazer. Ipanema 2x0.
Pouco importava, para a retomada da trajetória azulada no jogo, a maneira como o oponente se estruturava taticamente, as movimentações frequentes que seus atletas executavam, e sua qualidade técnica inegável. Era fundamental, todavia, que o próprio Expresso decidisse de uma vez por todas acreditar no trabalho que vinha fazendo desde os primeiros encontros, ainda na PUC. Faltava aproximar dos rivais, como ficou estabelecido na preleção; faltava circular a bola; e faltava, acima de tudo, perceber que, agora, valia mais que os 3 pontos! Valia a própria dedicação despendida ao longo de todo este interminável período! E assim, finalmente, se fez a luz!
      Já na saída de bola Staudt recebeu, abriu para Paulo de Tarso e este para Carlos Fernandez, que chegou até a lateral da área e cruzou sobre a defesa. O time saía de trás com objetivo pela primeira vez na partida, 5 segundos da etapa complementar. Imediatamente a retaguarda avançou e a compactação dos setores ressurgiu, as divididas passaram a ser do Expresso, e mais nenhum oponente recebeu com liberdade pelo resto do enfrentamento.
Beneficiados pelo avanço da zaga, tanto Paulo de Tarso quanto o substituto de Ricardo Toscani, Francisco Peres, focaram seu combate em alvos específicos, o que lhes possibilitou, inclusive, apoiar o ataque, e Pedro Fernandes e Heider Alves começaram, definitivamente, a jogar.
         Depois de sair de trás em velocidade pela esquerda, Staudt passou por dois adversários ao tabelar com Allison Raupp no campo de defesa. Fernandes arrancou pelo flanco, mas o meia boêmio ameaçou o passe e seguiu a progressão rumo à área. Quando preparava o passe para Alves, sofreu carga faltosa na intermediária, continuando, surdamente, a carreira lunática que já nem valia mais. Falta. O programa espacial seria reativado.
      Posicionado para o lançamento, Carlos Fernandez preparava os últimos detalhes do Sputnik que enviaria para a área, outra vitória sobre os americanos. Ele veio girando, os cosmonautas subiram e, subindo mais que todos, no meio da defesa, Heider Alves torneou firme, lá no ângulo, no melhor estilo Yuri Gagrin: “A Terra é azul!”. Gol do Expresso, o seu primeiro pelo Trem Fantasma! E foi também seu momento derradeiro no jogo. O dele e o de Carlos Fernandez, ambos cedendo lugar a Sérgio Carvalho e Dartagnan Noli, que já entraram infernizando!


Alves soviético: o espaço é nosso!

      Sujeito aos contra-ataques, o time não arredou mais pé do campo ofensivo por um segundo sequer. Adiantou a marcação completamente, era o empate ou nada! E para possibilitar a reação total, foram sendo recompostas as energias à medida em que assumiam as funções os atletas vindos do banco.
       Aos 25 do segundo tempo, em arrancada fulminante pelo meio depois de o time recuperar a bola na frente por meio de marcação-pressão, Paulo de Tarso achou Noli pela direita em condições de arrematar. O centroavante artilheiro recolheu com um leve toque e bateu cruzado com violência. Pedro Fernandes acompanhava de cima o lance e sentiu que era hora do carrinho para consolidar a igualdade, mas não deu tempo: o próprio defensor, desnorteado, se encarregou de estabelecer a justiça no escore, tropeçando nela bizarramente e atirando-a em chamas para o gol vazio! Expressooooooo!!!!


Dartagnan Noli empatou em chute cruzado: “Um por todos, todos por um!”

      Já com Victor “Nêgo” Johnson, Giovani Boccardi e Fernando Gutheil em campo, a equipe construiu uma barreira próximo à área, terminou com o ímpeto do Ipanema e impediu que este se aproximasse da meta chegando junto. A balança pendeu para o lado celeste, que quase virou o jogo em dois lançamentos cortados no último esforço pela zaga alviverde. Nos minutos finais, Rafael Rancati também entrou para defender o time com artilharia antiaérea, e o Expresso festejou o valiosíssimo ponto arrancado em homenagem ao mais gigante de seus atacantes, o querido e saudoso Rodrigo Gladiador.


 Expresso da Madrugada ressurgiu com sua farda campeã! Pra cima deles, Trem Fantasma!

      A nota triste do encontro fica por conta da declaração preconceituosa feita por um dos atletas do Ipanema, que xingou o expressano Francisco Peres tentando atingi-lo por ser nordestino. Nós, da coruja celeste, compreendemos que dentro de campo os ânimos se exaltam, mas que já não existe mais espaço, numa sociedade que se pretende evoluída, para ataques contra qualquer pessoa tentando imputar a ela inferioridade por conta de sua origem, raça, sexo, cor, idade ou quaisquer outras formas de discriminação.

Expresso 2x2 Ipanema
PT = 0x2
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 29/08/15
Horário: 15h30

Copa UEFA
Araldo Neto – Leandro Silveira, Marco Viola(C) e Cristian Pheula; Carlos Fernandez, Paulo de Tarso, José Staudt, Ricardo Toscani e Allison Raupp; Pedro Fernandes e Heider Alves. (Dartagnan Noli, Fernando Gutheil, Francisco Peres, Giovani Boccardi, Rafael Rancati, Sérgio Carvalho e Victor Freitas). André Maders , Geverton Ost e Vinícius Guimarães. Técnico: José Staudt.
Gols: Dartagnan Noli e Heider Alves.

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