Primeira
virada, na hora certa
Expresso bate All Blacks após estar duas vezes em
desvantagem e segue na luta pela vaga
Precisando
da vitória para continuarem com chances de avançar às semifinais da UEFA, onde
defendem o vice-campeonato, os expressanos foram a campo para bater o All
Blacks absolutamente cientes de que encontrariam um adversário acostumado a um
jogo físico e de intimidação, e que apenas com muito sangue frio – para
suportar as provocações sem perder a cabeça – e garra inigualável – para fazer
frente à diferença física que separa os dois times –, seriam capazes de
derrubar o oponente.
Os
minutos iniciais foram preocupantes. Desde o primeiro lance, uma saída de bola
com lançamento para a ponta esquerda, o All Blacks tentou impor seu estilo truculento
de jogo, alçando bolas na área, apertando a marcação e procurando um erro do
Expresso para abrir o placar. Atentos, os boêmio-ferroviários souberam conviver
com a pressão e contornaram-na após 10 minutos, empenhando-se com muito vigor em
segurar o escore.
Após
este período o jogo se normalizou, com o Expresso conseguindo trocar passes e
utilizando a velocidade de Fábio Jorge pelo flanco e a imposição física de
Fernando Gutheil entre os zagueiros, o que tirou definitivamente o ímpeto
contrário.
Rosner
e Nathan Silva, então, começaram a aparecer pelos lados na saída de bola,
iniciando as jogadas de ataque, que passavam por Carlos Fernandez e Marco
Viola, e chegavam até José Staudt e André Silva. Os passes decisivos, porém,
eram sempre desperdiçados, e, mesmo com chegadas fortes à frente, o Expresso
não conseguia concluir com qualidade, visto que o último toque para o
companheiro era muito curto, muito longo ou deficiente, o que mantinha sempre o
0x0. As melhores chances, todavia, ainda assim foram do Expresso. Na primeira,
Gutheil recebeu entre os zagueiros e dominou com exímia categoria uma bola
muito difícil, escondendo-a do defensor e ajeitando-a para o arremate com
apenas um toque, e em velocidade. O chute, entretanto, saiu mascado devido ao
assédio do zagueiro, o que evitou que o centroavante colocasse o Expresso em
vantagem. Na segunda, de novo Gutheil recebeu, dominando e imediatamente
tentando encobrir o guarda-metas contrário, o que só não aconteceu porque outra
vez foi desequilibrado na hora do chute, e o goleiro pôde fazer a defesa no
susto. Na terceira, Staudt cobrou falta que tinha endereço certo, mas parou no
braço do alvinegro que entrou para a barreira no exato momento do chute.
Pênalti não marcado. Na quarta, Nathan Silva pegou rebote de escanteio na
meia-lua e soltou a bomba, que foi defendida com os dois braços dentro da área
pelo zagueiro adversário. Pênalti novamente não marcado pelo árbitro Adriano.
O
jogo passou a ser mais de meio-campo, com ambos os lados errando passes e
travando forte batalha por centímetros de gramado. Quando o oponente não mais
ameaçava, achou um contragolpe veloz após lançamento preciso da direita para a
esquerda, pegando a defesa azulada aberta. O atacante dominou com categoria,
deu um drible seco no defensor expressano quando este tentou desarmá-lo, e
arrematou com precisão no ângulo de Araldo Neto, que nada pôde fazer. All
Blacks 1x0.
Tudo
ficava ainda mais difícil. Agora o time precisaria virar se quisesse ter
chances vivas de se classificar, e a derrota eliminava-o antecipadamente da
competição. Sendo assim, tratou de manter a mesma postura que já vinha, há
muitos minutos, apresentando em campo: seriedade, garra, equilíbrio e
constância para buscar o resultado de forma ordenada.
Adriano
marcou falta para o Expresso no meio de campo, e antes do cruzamento teve
início um desentendimento entre André Silva e o zagueiro adversário. Fernando
Gutheil já havia sido cercado após sofrer falta grosseira na entrada da área, e
ameaçado de agressão; José Staudt já havia sido atingido sem bola por um
cotovelaço; e Rodrigo Dresch recebera uma cusparada no rosto. Quando eclodiu a
confusão, que mais uma vez parecia que iria terminar com cartão amarelo para os
dois, o auxiliar Wellington teve peito para denunciar o comportamento do atleta
neozelandês. Chamando o árbitro, avisou da cusparada que atingiu André Silva no
rosto, a segunda da tarde contra um expressano, e, assim, excluiu o agressor de
campo, abrindo espaço para, no segundo tempo, tudo mudar de figura.
O
intervalo foi quente, e não só pelos 30°C que fazia às 13h de sol a pino. Era o
momento decisivo do jogo, e, se bem utilizado, poderia reverter o resultado que
se mantinha e trazer o Expresso de volta à luta pelo título.
Tudo
girou em torno da importância da manutenção da calma e da serenidade. Que se
colocasse a vontade que cada um sentia na busca incessante pela virada. Com um
a mais em campo, o Expresso precisava apenas jogar, esquecer a estratégia dos
oponentes e desarmá-los por meio de um futebol melhor, mais guerreiro, mais
vibrante e leal. E aos 15 segundos do segundo tempo, depois de Nathan Silva
achar Fábio Jorge em projeção pela
esquerda, o atacante boêmio-ferroviário investiu contra a zaga e invadiu a
área, chegando à linha de fundo de onde desceu o cacete, rasteiro, entre o
rodapé direito e o porteiro, empatando o jogo e dando o primeiro sinal de que a
situação havia se transformado.
A
pressão mudou de lado, e agora só dava Expresso. Escanteios, faltas nas
laterais do campo, cruzamentos e investidas na área levaram ao desespero o time
negro, que agora se defendia como podia. Conseguiu escapar da virada ainda no
início da etapa quando Adriano inventou falta de Gutheil, que desarmou na bola
o volante na meia cancha e serviu Jorge, que num toque largou ela na frente e
bateu os dois zagueiros na corrida, avançando sozinho em direção à meta onde
marcaria o segundo gol não fosse a paralisação equivocada da partida. Foram
ajudados a escapar mais uma vez quando o zagueiro, acossado pela ofensiva
azulada, recuou claramente a bola para o goleiro, que recolheu-a com as mãos,
em mais uma infração, esta a um metro da pequena área, não marcada por Adriano.
Contudo,
ainda havia emoções reservadas para o Expresso, e teria que suplantar
obstáculos gigantes se quisesse permanecer vivo na disputa.
Depois
de falta inexistente marcada na lateral da área para o All Blacks, o atacante
adversário antecipou-se e desviou a bola para o meio, onde apareceu Felipe
Pacheco, que, na tentativa de cortar, marcou contra. All Blacks 2x1.
Houve
alguns segundos de forte desânimo entre os jogadores azulados, mas logo foi
dissipado pelas palavras fortes de Marco Viola, insistindo em mostrar o caminho
para a reação mesmo ante as adversidades. Foi capaz de, num último lance, dar
início à jogada que resultou no lindo gol de empate de Fábio Jorge, sendo
atingido violentamente na sequencia do passe que enviou para José Staudt, que
serviu a Jorge pela esquerda para que este encobrisse o arqueiro e colocasse a
esfera no ângulo esquerdo, encaminhando a histórica virada.
Viola,
abalroado fora da jogada, daria lugar a André Maders, e o rival seria
justamente expulso por Adriano, que lhe apresentou cartão amarelo, que este já
possuía. Como o jogador contrário não saía, os boêmio-ferroviários foram cobrar
o árbitro, que vergonhosamente se esquivou, ao perceber que seria obrigado a
excluí-lo, com a alegação de que não estava admoestando o capitão da equipe
negra, mas sim autorizando a entrada em campo de dois substitutos que
aguardavam à beira do gramado, distantes do local para onde ele havia apontado
o amarelo.
O
jogo continuava. Era vencer ou vencer! Fernando Gutheil, esgotado, deu lugar a
Artur Weiss, zagueiro improvisado como centroavante para digladiar-se com os
retaguardeiros contrários e mantê-los preocupados com a perspectiva da derrota.
Em
sua primeira participação, ganhou a dividida avançando como um raio e chegando
à área pela direita, onde tentou o cruzamento para Jorge, cortado do jeito que
deu pela zaga para escanteio; porém, na segunda participação, foi devastador:
em combinação com André Silva, escorou de primeira para trás, onde aparecia
José Staudt entrando na diagonal da esquerda para a direita. O passe perfeito
chegou ao capitão do time em seu pé direito, que já vinha pronto para a paulada.
No entanto, numa finta milimétrica, trouxe a redonda para o pé esquerdo, e dali
mesmo, quase 30m, largou o petardo enviesado, torto, e fatal! Golaço! 35
minutos do segundo tempo, 3x2 Expresso, de virada. A primeira virada do time na
competição, e na hora certa! E ainda havia 10 minutos para tentar o quarto,
para buscar diminuir o déficit de gols adquirido contra o Bazar Mimo. E por
pouco ele não veio quando Maders entrou
pela direita e cruzou rasteiro para Fábio Jorge atrás da zaga, em frente
ao gol vazio. Ele atirou-se de carrinho para empurrar para dentro, mas ela
passou a centímetros de suas pernas e perdeu-se pela linha de fundo, mantendo a
diferença mínima.
Com
o jogo encaminhando-se para o final, o time tratou de segurar o resultado. Marciel
Hein, que era dúvida e tinha previsão de ficar fora até a semifinal, foi
promovido para colaborar com a vitória e tentar achar um contra-ataque,
enquanto lá atrás, no gol, Araldo Neto fechava a meta com segurança absoluta,
evitando que o oponente empatasse em dois lances de grande perigo, onde
interveio sem dar rebote, garantindo o placar e possibilitando ao time entrar
na última rodada em condições de lutar, mais uma vez, por um lugar entre os 4
melhores da UEFA.
Expresso da Madrugada 3x2 All Blacks
PT = 0x1
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 24/11/2012
Horário: 12h
Copa UEFA
Escalação: Araldo de Souza Neto –
Diego Rosner, Rodrigo Dresch, Felipe Pacheco e Nathan Silva; Marco Viola,
Carlos Fernandez, José Staudt(C) e André Silva; Fábio Jorge e Fernando Gutheil.
(André Maders, Angelo Zanetti, Artur Weiss, Marciel Hein e Vinícius Guimarães). DT:
Martin Both.
Gols: Fábio Jorge(2) e José Staudt.