Excepcional triunfo boêmio
Desmantelado, exaurido e feroz, Expresso sobrevive
ao Aliança, vence e segue na luta
Na manhã/tarde do sábado, dia 17 de Maio, 11 lutadores foram a campo apoiados pelos companheiros impossibilitados
de enfrentar o desafio de vencer o Aliança, divisor de águas entre os
classificados e os eliminados até aqui na Farroupilha.
Desfalcado de muitos
importantes jogadores, o time teve entre os iniciantes o mítico guardavalas
Araldo Neto, já que Mateus Trombetta recupera-se de infecção intestinal; o
volante Ricardo Toscani, que fora vetado pelo Departamento Médico com uma lesão
na virilha mas foi obrigado a começar; e Fernando Gutheil – líbero contra o
Azenha e centroavante contra o Aliança.
Sem lateral direito de
ofício, Cristian Pheula foi improvisado no setor, e Toscani, que não podia
correr, começou na função de José Staudt, recuado. Mesmo assim foi o Expresso
que tomou a iniciativa do jogo, obcecado pelo único resultado que lhe servia: a
vitória.
Tentando marcar no campo de
ataque apesar das dificuldades táticas, controlava bem a saída do adversário,
brigando com sucesso pela posse de bola no meio e armando boas jogadas de
ataque. Após bonita combinação entre Vinícius Guimarães e Ricardo Toscani,
Gutheil recebeu na intermediária e bateu seco, bola salva pelo goleiro com
extrema dificuldade em dois tempos; Geverton Ost tabelou com Fernando Gutheil,
abriu no fundo para José Staudt, que cruzou com perigo para a surpreendente
chegada na área do lateral Nathan Silva, que não anotou por um segundo depois
de sensacional movimentação ofensiva.
Defensivamente
intransponível por ambos os lados, no miolo de defesa não era diferente.
Rodrigo Dresch, Marco Viola e o capitão Artur Weiss impediam penetrações pelo
setor. O Expresso, então, conseguiu o seu gol quando Staudt novamente foi à
linha de fundo e cruzou entre os zagueiros, que ficaram indecisos. Gutheil
lançou-se em direção à esfera que sobrava perdida em meio à zaga, impulsionou-a
para cima, por sobre o goleiro, e fez o time pular na frente!
Depois disso começou o
suplício! Com Toscani tentando se mover sem sucesso, Geverton Ost foi lançado
em profundidade às costas da zaga por Guimarães. Ganhava parcialmente a disputa
com o oponente até que foi vencido por fisgada no posterior da coxa, levando a
mão ao local e diminuindo a velocidade até parar por completo. Ainda tentou
ficar mais um pouco, o que foi impossível depois que, outra vez Vinícius
Guimarães, enviou-lhe lançamento de 50m, no qual tentou arrancar, o que
impediu-o de permanecer em pé. O Expresso ficava com um homem a menos. Eram,
ainda, 25 minutos.
O tempo negava-se a correr,
enquanto apresentava-se tardiamente para o embate o uruguayo Carlos Fernandez,
muita experiência em demorar para fardar-se. Ainda eram 30 minutos quando a
impressão era de 44; 35, quando a certeza era de 60. O primeiro tempo,
aparentemente interminável, encerrou-se com virtualmente 85 minutos jogados,
pelo menos para o físico de que dispunham os expressanos.
No intervalo apareceu novo
soldado, substituto do companheiro de valor inestimável Ricardo Toscani. André
Silva, cujo talento pôde-se ver logo na primeira participação da etapa,
assumindo a responsabilidade pela armação da jogada e levando 3 adversários a
dribles, levou a bola para o canto ofensivo do campo e lá sofreu a falta. O
trem fantasma recobrou ânimo, deixou o campo que habitara exclusivamente nas
últimas várias horas, o de defesa, e aventurou-se no ataque.
A terra, então, tremeu mais
uma vez quando avançou pela direita com ímpeto arrasador. Não era Fernando
Gutheil caindo o motivo do tremor desesperante. Não, era Viola. O volante
inextinguível trabalhou-a com Fernandez, que se colocava pelo meio na
intermediária. Antes de recolhê-la, porém, assistiu ao momento derradeiro da
existência de Guimarães no jogo, quando passou em velocidade suicida pela linha
da bola, abrindo as pernas para fazer o corta-luz que cegou dois adversários e
deixou Carlos Fernandez em liberdade similar à de Adão. De posse da redonda
enveredou para o meio na diagonal, aproximando-se da cabeça da área. José
Staudt, então, surgiu zunindo pela esquerda. O uruguayo, que já engatilhava a
canhota, reconsiderou, rolando-a magistralmente para o companheiro que passava
aos berros, rente ao adversário que o tentava perseguir. O oponente ainda
conseguiu raspar de leve nela, o que só ajeitou-a ainda mais para o meia
celeste, que soltou o petardo de fora da área enviesado, rasante e
indefensável! Goooooolll!!!! O Aliança assistia à cena perplexo, 20 jogadores
compondo o grupo que lamentava profundamente.
A seguir, Leandro Silveira,
outro que chegava para impedir o esfacelamento total do time, assumia a vaga no
ataque e realinhava o sistema tático, que tinha validade de mais
aproximadamente 5 minutos. Araldo Neto
há muito vinha sendo chamado a trabalhar, e no mais mágico dos momentos saiu do
arco fechando o ângulo e amedrontando o avante rival, que chutou de qualquer
maneira. A redonda, entretanto, foi fugindo, fugindo em direção à meta, no que
Neto executou rolinho notável contra ela, agilidade incomum para desviá-la com
a ponta das barbatanas a escanteio e assim praticamente sepultar as
possibilidades do quadro rubro-azulado.
Silveira, então, já
aquecido, em dois lances quase saiu na cara do goleiro, perdendo na corrida
para os defensores; no terceiro, atirou com efeito tão grande que errou o alvo
por milímetros; no quarto, ganhou e perdeu 2 vezes, até forçar o defensor a
empurrar a bola pela linha de fundo unicamente devido ao pavor. A última jogada
lúcida do Expresso no jogo foi o escanteio, que Carlos Fernandez cobrou com
perfeição e Marco Viola usou seu último fio de cabelo, que é branco e mais
endurecido, para encobrir o estático goleiro e empurrar a terceira bola para o
fundo das redes! Era a vitória!
Porém o escanteio foi, de
fato, a última jogada lúcida do Expresso no jogo. As pernas não obedeciam mais
ao cérebro, que também mal e porcamente funcionava. Exatos 60 segundos depois
de marcarem o gol que praticamente garantia os 3 pontos, os ferroviários
sofriam, em pênalti inexistente, o primeiro gol do Aliança; na saída de bola,
que perderam com facilidade infantil, escaparam de levar o segundo, isto aos 38
minutos da etapa complementar de um jogo em que Tony prometera 5 de acréscimo.
Aos 48 o Aliança descontou mais uma vez. Todavia a esfera levou 5 horas para
voltar ao círculo central, e quando finalmente apareceu, com lua e céu
estrelado, já era hora de sair pra festa!
Expresso da Madrugada 3x2
Aliança
PT = 1x0
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 17/05/14
Horário: 11h30
Copa Farroupilha
Escalação: Araldo Neto – Cristian
Pheula, Rodrigo Dresch, Artur Weiss(C) e Nathan Silva; Marco Viola, Vinícius
Guimarães, José Staudt e Ricardo Toscani; Geverton Ost e Fernando Gutheil.
(André Silva, Carlos Fernandez e Leandro Silveira). DT: José Staudt.
Gols: Fernando Gutheil, José Staudt e Marco
Viola.