De volta aos trilhos
Boêmio-ferroviário vence o campeão do primeiro turno
por 2x1 e ressurge na competição
O
time estava em ruínas para a partida ante a melhor equipe do certame. A zaga
jamais havia atuado junta, e houve improvisações em todos os setores. No banco,
apenas atletas retornando de lesão. A estreia no segundo turno havia sido com
derrota para o Ipanema e nenhum prognóstico indicava qualquer possibilidade de
resistência boêmio-ferroviária contra o invicto adversário. Porém, a história
azulada é repleta de reações inesperadas e, na figura de seu pequeno grupo de
combatentes, o clube voltou a demonstrar a força que o acompanha desde a
fundação, e que estava adormecida.
Quatorze
atletas se apresentaram para a missão de recuperar o Expresso na Copa Farroupilha.
Destes, 4 voltavam de lesão – Diego Macaco, Fernando Gutheil, Marco Silva, e,
vetado pelo departamento médico, Mário Arla. No gol, após quase 4 anos afastado
dos gramados, Araldo de Souza Neto, lançado às pressas devido às ausências dos
demais guarda-metas do elenco, em meio à improvisação do setor e de boa parte
do time. Do lado de fora, Martin Both, o comandante, lutava para encontrar a
melhor maneira de neutralizar as forças contrárias junto a André Maders, também
lesionado.
Virtualmente
todas as divididas foram ganhas pelo Expresso, mas o poderio ofensivo contrário
fazia-o dedicar-se quase que inteiramente a defender a meta. Bloqueava a
entrada da área e rechaçava todas as tentativas de penetrar o seu território.
Permitia unicamente os arremates de média e longa distância, que não levavam
perigo ao gol de Souza Neto. Mas a insistência adversária era violenta, e a
bola não parava de rondar a área. Os escanteios passaram a acontecer e, em
pouco tempo, os chutes ficaram mais precisos e perigosos, e Araldo Neto começou
a trabalhar.
Bola
no travessão em chute de fora da área, a meta seguia invicta, 0x0. A esta
altura poucas vezes a articulação havia participado do jogo, com André Silva
movimentando-se por todo o campo na tentativa de levar o Expresso à frente.
Rodrigo Veiga e Marciel Hein eram os responsáveis maiores pelo desafogo, mas a
equipe não mantinha a posse de bola. O zagueiro Felipe Pacheco já começava a
constituir-se num dos nomes mais importantes do embate, juntamente com o
companheiro Diego Macaco, que contavam sempre com a cobertura perfeita dos
laterais Silva e Vinícius Guimarães, além da proteção frontal de José Staudt e
Carlos Fernandez, volantes. Gladiador lutava sozinho no ataque, uma vez que,
recuada, a equipe levava tempo para conseguir aproximar-se dele, que era
marcado por dois ou três jogadores.
Praticamente
nenhuma produção ofensiva na primeira etapa, e apenas dois ou três chutes de
longe, sem perigo, chegaram às mãos do goleiro adversário, enquanto Araldo Neto
desdobrava-se para, apesar da solidez dos defensores, evitar que o Mônaco
abrisse o placar. No lance mais perigoso, praticou defesa assustadora salvando
inacreditavelmente, mas a bola voltou na cabeça do atacante, livre, com o gol
vazio. Pronto para anotar, foi interceptado por dois expressanos em pleno ar,
Felipe Pacheco e José Staudt, que se lançaram contra ele impedindo-o de
concluir com perfeição. Bola para fora.
O
primeiro tempo chegou ao fim com quase 70% de posse de bola do Mônaco, mas com
o Expresso começando a encontrar alguns poucos espaços para segurar a esfera e
sair da marcação. Guimarães e Hein articulavam pela direita com mais
frequência, e Nathan Silva e Veiga levavam vantagem sobre seus marcadores,
encontrando André Silva pelo meio.
Na
segunda parte a estratégia manteve-se inalterada, e apenas um corredor
semicircular que se estendia de uma lateral à outra na frente da área era
permitido ao Mônaco acessar, guardado por Guimarães, Fernandez, Staudt e Silva.
Já ofensivamente as coisas iam mudando, e André Silva desvencilhava-se da
marcação, situação que propiciou a Rodrigo Gladiador uma aparição melhor,
retendo a bola e trabalhando com os alas Marciel Hein e Rodrigo Veiga. Apareceu
o primeiro escanteio. Sempre 0x0.
A
tenacidade defensiva era tamanha que as oportunidades de gol não apareciam para
o Mônaco. Os chutes de fora saiam cada vez mais desviados e, apesar da pressão
e do volume de jogo, nada lhe era concedido em termos de infiltração. Souza
Neto passava a fazer intervenções menos frequentes, ainda que a pelea próxima à
meia-lua fosse absolutamente acirrada. Até que a equipe errou uma inversão de
jogo de maneira perigosa. O passe curto pegou o time saindo, e apenas Felipe
Pacheco ainda estava colocado para tentar, num último movimento, parar o
ataque. Jogando-se contra a redonda, evitou o avanço perfeito do oponente, e
ela quicou um pouco alta para a conclusão. Na fração de segundo que antecedeu o
arremate, Araldo Neto saíra com precisão matemática para fechar o ângulo por
completo. O tiro seco passou a 1cm de sua perna, a 1cm do poste, e perdeu-se
com justiça pela linha de fundo.
Mas
quando nada mais parecia poder vazar a defesa expressana, um pênalti
absolutamente inexistente foi marcado pela arbitragem. Cercado e sem
argumentos, o juiz avançou até o buraco sem cal provavelmente repensando a
assinalação, enquanto ouvia a indignação dos expressanos. O último deles, de
luvas, nada pôde fazer para evitar o pior. Mônaco 1x0.
Mas
os inconformados boêmios contra-atacaram com determinação para tentar reparar o
trágico equívoco. Gladiador avançou pela esquerda sobre a defensiva atônita.
Contra dois, passou arrastando o que via pela frente, e saiu do meio da poeira
ainda de pé, com ela à sua frente. Preparava-se para disparar o que seria o
primeiro chute a gol expressano de dentro da área quando foi atingido,
desabando ao som do apito arrependido, que apontava de novo penalidade máxima,
agora claríssima, que coube a José Staudt converter deslocando o goleiro para
deixar tudo igual.
Entraram
ainda Fernando Gutheil e Marco Silva. A exemplo dos substituídos Guimarães e
Fernandez, impossibilitaram a aproximação perigosa dos oponentes, com divididas
firmes. Gutheil em duas oportunidades ainda na intermediária, saindo com a bola
e deixando para trás o rival; Silva em outras duas, ambas de recuperação,
lavrando o solo da entrada da cidadela.
As
corujas visavam o ataque final, consistente e planejado. Na primeira tentativa
Marciel Hein foi à linha de fundo e suspendeu com perfeição para Rodrigo
Gladiador lançar-se numa tesourada voadora sensacional, que passou em branco;
mas na segunda, Hein foi servido pelo mesmo Gladiador a quem servira primeiro.
Matou no peito o passe primoroso, esperando o goleiro sair. Limpou-o com
categoria do pé direito para o esquerdo, avançando livre de marcação para
apenas escorar para o meio do gol, virar a partida aos 42 minutos e garantir a
vitória. O gol da redenção do artilheiro recoloca o Expresso da Madrugada na
briga pela classificação, surpreende mais uma vez os adversários e reencaminha
o clube de volta às suas mais belas origens.
Expresso da Madrugada 2x1 Mônaco
PT = 0x0
Local: CT Muradás, Canoas
Data: 23/06/2012
Horário: 13h
Copa Garibaldi
Escalação: Araldo de Souza Neto; Vinícius Guimarães, Diego Macaco,
Felipe Pacheco e Nathan Silva; Carlos Fernandez, José Staudt (C), Marciel Hein
e Rodrigo Veiga; André Silva e Rodrigo Gladiador. (Fernando Gutheil e Marco
Silva). DT: Martin Both.
Gols: José Staudt e Marciel
Hein.
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